Pode beber depois de tomar a vacina da covid?
01/01/1970

Especialistas explicam que o consumo de álcool não altera a eficácia da vacinação, mas em excesso pode afetar a imunidade, e a resposta vacinal está ligada à eficiência do sistema imunológico

"Posso beber depois de tomar a vacina?". Essa foi a pergunta mais buscada na internet em relação ao imunizante da Covid-19 em 2021. A dúvida, comum entre os brasileiros, permanece devido à aplicação das doses de reforço em todo o país. Além disso, muitas pessoas estão tomando a primeira ou a segunda dose do imunizante nestes primeiros meses do ano. Para nos ajudar a responder essa pergunta, o EU Atleta conversou com a médica Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e com o médico pneumologista Arthur Feltrin, atuante na linha de frente do combate ao novo coronavírus.

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Bravo já adianta que ainda não há evidências científicas relacionadas ao álcool interferir ou não na resposta imunológica da vacinação da Covid-19. O ponto principal da questão, na verdade, é sobre a quantidade do consumo. Se ingerida de forma moderada, a bebida não chega a afetar de forma permanente as funções orgânicas e, consequentemente, não deve interferir no sistema imune. Mas o excesso de álcool afeta fígado, rins, cérebro e outros órgão, e nesse caso há impacto na imunidade. Ou seja, tomar um drink depois de se vacinar não afeta diretamente a eficácia da vacina, mas álcool em excesso pode interferir na resposta vacinal por baixar a imunidade. Vamos entender melhor? Abaixo, vamos responder às seguintes perguntas:

 

  • O álcool pode reduzir a eficácia da vacina?
  • O álcool pode piorar as reações à vacina?
  • Qual a quantidade segura de álcool que pode ser consumida após a vacinação?
  • Qual o efeito do álcool no sistema imunológico?
  • Posso beber e fazer exercício físico depois de tomar a vacina da Covid-19?

 

 

O álcool pode reduzir a eficácia da vacina?

 

Com o aumento das buscas em relação ao consumo de álcool após se vacinar, a Fundação Oswaldo Cruz (fabricante da AstraZeneca) emitiu um vídeo da pesquisadora e médica Margareth Dalcomo explicando que a bebida alcoólica não tira a ação da vacina. Para a pesquisadora, a questão é mais de bom senso do que biológica, uma vez que o ideal é observar como seu corpo reagirá ao imunizante sem ingerir substâncias que podem mascarar tal efeito.

A médica Flávia Bravo alerta para o efeito do álcool em pessoas que costumam beber em grandes quantidades cronicamente.

— Não existe nenhuma evidência para não beber depois da vacina, mas é claro que beber exageradamente não é bom para ninguém, pois a ingestão excessiva de álcool tem efeito no organismo como um todo, prejudicando os sistemas orgânicos, inclusive, no que diz respeito à resposta imune. Então, a gente observa certas infecções com mais facilidade em alcoólatras crônicos, ou seja, o álcool, na verdade, interfere na função do fígado, renal e outras funções orgânicas — pontua a médica.

Segundo o médico pneumologista Arthur Feltrin, a relação do consumo de álcool e vacinação tem sido muito discutida no meio médico acadêmico nos últimos meses. Um dos motivos que contribuem com a dúvida dos brasileiros se dá pelo fato de que as bulas das vacinas disponíveis no Brasil (AstraZeneca, CoronaVac, Janssen e Pfizer) não trouxeram uma especificação sobre o consumo do álcool. De acordo com Feltrin, a falta de indicações e contraindicações nas bulas dos imunizantes ocorre porque os estudos sobre os efeitos da interação da vacina com o álcool são recentes e muitos ainda não têm revisão por pares. As orientações sobre evitar o consumo de bebidas alcoólicas levam em conta a baixa resposta imunológica que elas causam no organismo, não diretamente na eficácia da vacina.

— Em geral, nada em excesso faz bem para a saúde e, claro, isso inclui o consumo de bebidas alcoólicas, já que elas podem reduzir a produção de anticorpos e diminuem as funções hepáticas, sobrecarregando o trato gastrointestinal, onde as células imunes encontram-se em maior concentração. O recomendado é esperar de três a cinco dias após a aplicação da vacina para ingerir bebida alcóolica para que não haja uma baixa na resposta imunológica do organismo— explica o médico.

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O álcool pode piorar as reações à vacina?
Segundo Bravo, também não existe nenhuma evidência que associe o álcool à piora das reações da vacina.

— Beber em grandes quantidades pode provocar a famosa ressaca, que pode se confundir com eventos adversos. Dessa forma, se uma pessoa toma a vacina, bebe exageradamente e acorda no dia seguinte com dor no corpo, dor de cabeça ou náusea, confunde quais sintomas são decorrentes da ingestão excessiva de álcool ou da reação vacinal. Ao mesmo tempo que não aumenta o risco de reação, a bebida pode mascarar à reação pós vacinação — informa a médica.

Já Feltrin pontua que o consumo de álcool apresenta um efeito imunossupressor, ou seja, quando consumido em excesso reduz a atividade ou eficiência do sistema imunológico (responsável por gerar defesas contra vírus e infecções). Nesse sentido, o consumo de bebidas alcoólicas poderia piorar as reações à vacina.

 

Qual a quantidade segura de álcool que pode ser consumida após a vacinação?

 

Para a diretora da SBIm, o consumo de álcool é uma questão de bom senso. Beber em excesso nunca é bom. O álcool em quantidades moderadas não vai interferir em nenhuma função orgânica ou vai afetar a vacinação. Nesse caso, o organismo é capaz de se recuperar de qualquer alteração.

Mas afinal, o que é beber de forma moderada? Vale ressaltar que, no Brasil, não há evidências relacionadas à quantidade "normal" de ingestão de álcool. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma dose padrão de bebida alcoólica possui 10 gramas de etanol puro. A organização indica que homens não tomem mais de duas doses por dia, enquanto mulheres devem limitar o consumo em uma dose diária. Para elucidar essa quantidade, uma lata de cerveja de 300 ml possui cerca de 12 gramas de etanol. Sendo assim, o consumo recomendado é, em média, duas latas de cerveja por dia para homens e uma lata para mulheres. Vale também para o vinho, por exemplo: no máximo duas taças para homem e uma para mulher. Além disso, a OMS recomenda não beber ao menos dois dias da semana.

— É claro que ocorre alteração fisiológica. O álcool é diurético, age nas células do cérebro, mas isso é recuperado se você não exagerar no consumo. Eu acho que a ideia principal é dizer que a resposta vacinal depende do status do seu sistema imune. Sendo assim, uma pessoa saudável, que tem um organismo bem cuidado, faz exercícios e se alimenta bem, possui um sistema imune mais eficaz e mais eficiente — analisa Flávia Bravo.

Arthur Feltrin ainda indica para a população conversar frequentemente com o seu médico. Segundo ele, o álcool é uma droga lícita altamente viciante e que pode afetar negativamente a sua rotina e bem-estar. Um profissional especialista, além de avaliar a saúde dos seus órgãos e orientar sobre os efeitos das bebidas no sistema imune, poderá ajudar na melhora da qualidade de vida pós-vacina e pós-covid.

 

Qual o efeito do álcool no sistema imunológico?

O álcool em exagero prejudica todo o organismo, inclusive as funções cerebrais e dos nossos neurônios, aumentando o risco de infartos, diabetes, câncer e doenças hepáticas, entre outros. Segundo Bravo, quantidades excessivas de álcool nunca devem ser consumidas.

— O excesso de qualquer coisa pode prejudicar o organismo como um todo e, consequentemente, as funções do sistema imune e dos órgãos que participam da defesa do organismo — explica Flávia Bravo

Posso beber e fazer exercício físico depois de tomar a vacina da Covid-19?

Não existe uma contraindicação para realizar exercícios após tomar uma dose do imunizante. Ao contrário, estudos revelam que a prática regular de exercícios físicos está associada ao aumento da resposta imunológica à vacina.

— Mas, atenção, não é recomendado beber antes de se exercitar. Essa orientação é válida independente da aplicação da dose do imunizante ou não. Afinal, o consumo de bebidas alcoólicas pode impactar na concentração e equilíbrio essenciais para a boa prática dos exercícios — explica o médico Arthur Feltrin.

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Fontes:
Arthur Feltrin é médico pneumologista e especialista em longevidade saudável. Trabalha na UTI na linha de frente no combate à Covid-19.
Flávia Bravo é médica pediatra diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

 

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