Mitos e verdades sobre o polêmico sal rosa do Himalaia
07/11/2017

Médico analisa as polêmicas sobre o consumo do sal e a relação com a nossa saúde. Confira!

 

O consumo do sal faz parte da história da civilização humana. Muitos afirmam que ele é essencial para a saúde. Ao contrário, outros afirmam que ele pode trazer malefícios para a saúde como o aumento da pressão arterial. O sódio (sal) está presente em vários alimentos naturais normalmente em uma proporção menor do que outros minerais como o potássio, por exemplo. Mas seu uso é feito de forma intensa nos alimentos industrializados, o que faz com que o consumo do sódio da população brasileira seja maior do que o recomendado.

+ Quer treinar com a marca Eu Atleta? Veja a coleção aqui

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o consumo diário de sal deve ser limitado a 5g de sal, o que equivale a 2g de sódio. Mas o sódio é também essencial para a vida. No sangue mantemos níveis estáveis de sódio que variam entre 135 a 145 mEq/L. Ele está presente também, por exemplo, no soro fisiológico que é capaz de salvar vidas, sendo um tratamento muito útil, especialmente nas situações de emergência médica.

+ Sal e sódio: veja mitos e verdades e como reduzir a ingestão

Do ponto de vista médico e nutricional há um debate de que o consumo do sal é prejudicial à saúde. Por estar associado ao aumento da pressão arterial, o sal é recomendado em baixíssimas doses na dieta por quase a totalidade dos profissionais de saúde.

Quais são os estudos que mostram malefícios do consumo do sal?

- Intersalt Trial (1996) - foi o primeiro estudo que contou com a participação de 10 mil indivíduos de 52 centros, em 39 países. Em quatro desses 52 centros ficou evidente que o sal contribuía para a elevação da pressão arterial. Depois de concluída, a pesquisa registrou que uma redução drástica na ingestão de sal resultou em uma diminuição mínima de 3-6mmHg na pressão sistólica e 0,3mmHg na pressão diastólica.

Cochrane (2004) - analisou 57 ensaios clínicos sobre dieta baixa em sal (hipossódica) em um período de 25 anos. Nesse caso, o efeito hipotensivo foi de 1,27mmHg para a pressão sistólica e 0,54mmHg para a pressão diastólica.

EASD (2017) - o estudo descobriu que a ingestão de sódio foi associada com um aumento médio de 43% no risco de desenvolvimento de diabetes 2 por cada grama extra de sódio (equivalente a 2,5 gramas de sal extra) consumida por dia. O efeito da ingestão de sódio no risco de desenvolver o diabetes autoimune latente em adultos (LADA) foi ainda maior, com um aumento de 73% por cada grama de sódio consumido por dia. Aqueles pacientes LADA com genótipos HLA de alto risco, cuja ingestão de sódio foi classificada como alta (mais de 3,15 g/dia) foram quase quatro vezes mais propensos a desenvolver a doença do que aqueles que consomem o menor (menos de 2,4 g/dia).

Quais estudos que mostram benefícios do consumo do sal?

The National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES 2006) - é conduzido pelo Departamento de Agricultura americana a cada década com o objetivo de avaliar a dieta dos americanos e quais suas consequências para a saúde. No estudo houve uma redução na mortalidade cardiovascular entre os indivíduos em que a ingestão de sal era superior. O maior risco de morte encontrava-se entre os que ingeriam menos que 2.300mg/dia.

JAMA (2011) - no estudo europeu sobre o consumo de sódio e excreção urinária foi avaliado o efeito do sal na pressão arterial e na mortalidade. Essa análise envolveu 3.681 indivíduos, sendo que 2.096 eram normotensos, ou seja, tinham pressão arterial normal. Os pesquisadores concluíram que o baixo consumo de sódio foi associado com uma maior mortalidade cardiovascular.

Diabetes Care (2011) - ao contrário do estudo EASD, pacientes com diabetes também não foram beneficiados pelas dietas hipossódicas. Pelo contrário, nesses casos, nota-se um aumento de mortes tanto cardiovascular, quanto por todas outras causas.

+ Pressão alta: como controlar a quantidade de sódio e evitar doença

Porque o sal é tão importante para o atleta?

Durante o exercício físico uma grande quantidade de sódio é perdida pela transpiração. Por isso, além da hidratação com água durante o exercício, é fundamental a reposição do sódio. O equilíbrio hidroeletrolítico restaura-se mais rapidamente quando quantidades moderadas a altas de sódio (20 a 60 mmol/l) são acrescentadas. O acréscimo de uma pequena quantidade de potássio (2 a 5 mmol/l) pode aprimorar a retenção de água no espaço intracelular. A recomendação é que a bebida contenha 0,5 a 0,7g de sódio por litro (sem sódio, a reidratação eleva apenas o débito urinário - com sódio ativa o impulso da sede, promove a retenção de líquidos e restaura mais rapidamente o volume plasmático perdido). Exercícios prolongados no calor podem depletar de 2,3 a 3,4g de sal por litro de suor.

Qual a diferença entre o sal integral e o sal refinado?

Defensores do consumo do sal afirmam que há uma grande diferença entre o sal refinado (sal de mesa) e o sal integral (sal marinho ou “grosso“, sal rosa, sal kosher, sal negro). No primeiro, a composição de sódio (Na) e cloreto (Cl) é maior do que a do sal integral, além de contar com a presença de substâncias químicas usadas para remover as “impurezas” e deixar somente NaCl. Algumas substâncias usadas são: ferrocianeto de alumínio, citrato de amônia, silicato de alumínio, ácido sulfúrico e dextrose.

O processo de “purificação” retira parte dos nutrientes do sal (oligoelementos ou microminerais). Já o sal integral (não refinado) não passa pelo processo de “purificação”, mantendo sua composição com cerca de 80 minerais e elementos, todos naturais, sendo alguns essenciais para o organismo. Segundo os defensores do sal, a versão integral conta com muitos oligoelementos, necessários à manutenção da homeostase (equilíbrio fisiológico), que corresponde à capacidade de o organismo apresentar uma situação físico-química característica e constante, mesmo diante de alterações no meio ambiente.

E o Sal Rosa do Himalaia é mesmo o melhor para consumo?

Recentemente muita polêmica foi criada sobre o consumo do sal rosa do Himalaia, e de acordo com alguns pesquisadores ele poderia não ser benéfico para a saúde. O sal rosa é o “sal do momento“ e aclamado na mídia por trazer benefícios a saúde. Ele é um sal das rochas existentes em minas na cordilheira do Himalaia. A composição clássica do sal rosa é de 98% de cloreto de sódio, incluindo até outros 80 elementos, entre eles fósforo, magnésio, potássio, cálcio, zinco, cobre e ferro. A coloração do sal, que pode ir do vermelho ao rosa claro, é derivada da concentração de alguns minerais. Quanto mais claro, maior é o seu grau de pureza.

A nutricionista Luna Azevedo comentou uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional de Nutrição Funcional onde foram apresentadas análises do sal rosa.

+ É seguro consumir bebida energética? Nutri responde

- A pesquisadora Conceição Trucom da UFRJ avaliou amostras de sal rosa e encontrou basicamente gesso, carbonatos e sulfatos principalmente de ferro e silicatos (areia). Quanto mais rosa, mais resíduo, por isso a grande diferença de preços no mercado. O sal rosa do Himalaia não é falso. Ele é assim mesmo: contaminado com sais de ferro e sílica inorgânica, a areia ou o quartzo que são abrasivos e não são assimilados pelo organismo humano. Na análise também foi encontrado o gesso (CaSO4.0,5H2O), um sal a base de cálcio que é inadequado à saúde humana; O sal rosa não se dissolve em água, mesmo durante várias horas em repouso. E todo sal tem que dissolver em água. Um sal para consumo humano não pode, não pode mesmo, conter insolúveis: sejam traços ou percentuais acima de 10 ppm.

No entanto, não existe qualquer estudo randomizado sobre benefícios ou malefícios do sal rosa nas plataformas de pesquisas científicas. Portanto, não se pode afirmar que ele possa trazer malefícios a saúde. O mesmo não pode ser afirmado com relação aos possísveis benefícios do sal rosa. A recomendação atual para consumo do sal refinado ou o sal integral são as mesmas. Por isso, É fundamental o acompanhamento do nutricionista, pois cada indivíduo tem uma necessidade. Vale lembrar que a ingesta de sódio pode variar muito. Por exemplo, um atleta terá maior necessidade de sódio na dieta em relação ao sedentário. Mantenha o equilíbrio nas suas escolhas e tenha sempre acompanhamento profissional especializado.

Referências:

1 - SAMLER, P. Intersalt Trial. BMJ 18:312 (704):1249-53 (1996).
2 - HE,FJ; MACGREGOR, GA. Effect of longer-term modest salt reduction on blood pressure. Cochrane database Syst. Rev. CD004937 (2004).
3 – Rasouli B et al. Sodium intake may be linked to an increased risk of developing both type 2 diabetes (T2D) and Latent Autoimmune Diabetes in Adults (LADA) says new research being presented at this year's annual meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD) (2017).
7. COHEN, HW et al. Sodium intake and mortality in the NHANES II follow-up study. Am. J. Med.2006. 119, 275-e7- 14.
8. STOLARZ-SKRZYPEK, KKTTL et al. Fatal and nonfatal outcomes, incidence of hypertension, and blood pressure changes in relation to urinary sodium excretion. JAMA J. Am. Med. 2011. Assoc. 305, 1777-1785.
9. EKINCI, EI et al. Dietary salt intake and mortality in patients with type 2 diabetes. Diabetes care, 2011. 34, 703-709.

 

 

*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com.

  

 

Voltar