Especialistas afirmam que ainda é cedo para medir os efeitos causados pelo Covid-19 a longo prazo na vida dos pacientes, mas alguns estudos preliminares estão sendo divulgados pela comunidade médica tanto em relação às repercussões no pulmão quanto no coração. Em meio a incertezas, os médicos têm clareza numa orientação: no caso de atletas profissionais ou amadores, caso tenham sido diagnosticados com coronavírus, é necessária muita atenção no retorno às atividades. Segundo Ivan Pacheco, médico do esporte e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, é fundamental avaliar cada atleta individualmente.
Médicos chineses do Centro de Doenças Infecciosas do Princess Margaret Hospital avaliaram que parte dos pacientes afetados pelo coronavírus apresentaram danos pulmonares após recuperação da doença. Pesquisadores de Hong Kong divulgaram recentemente que, de 12 pacientes avaliados que realizaram tratamento em hospital e foram curados, três deles apresentaram redução da capacidade pulmonar. As pessoas analisadas relataram dificuldade para respirar em atividades que exigiam maior esforço, como caminhadas mais rápidas. Entre os pacientes recuperados, alguns deles podem apresentar queda de até 30% na função pulmonar. Ainda não é possível afirmar se o coronavírus desenvolva fibrose pulmonar, doença crônica devido a lesões no tecido pulmonar, resultando no endurecimento do órgão e redução da captação de oxigênio. Mas pode-se afirmar que a retomada de uma atividade física deve ser gradual, acompanhada por médicos e só deve acontecer após uma série de exames; além de, em alguns casos, depois da realização de fisioterapia respiratória para a recuperação da total capacidade pulmonar.
- O retorno ao esporte vai depender do grau de acometimento da doença. Mas é interessante que, independente disso, a pessoa depois de curada tenha um retorno gradual, até porque ela pode ficar debilitada por um tempo. É necessário ter uma boa alimentação para fortalecer o sistema imunológico e um bom período de repouso - explica Pacheco.
Para o pneumologista Ricardo Martins, membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia - SBPT, estudos mais aprofundados sobre o comprometimento pulmonar que o Covid-19 pode apresentar nos pacientes ainda serão realizados.
- Geralmente os casos de dano pulmonar mais grave ocorrem em pessoas na faixa etária de risco, que são os idosos e portadores de doenças crônicas. Se o atleta for acometido pelo coronavírus e tiver manifestações leves, não terá comprometimento pulmonar e poderá retornar às atividades normalmente após o período da doença - esclarece o pneumologista.
Ricardo ainda reforça que os atletas, caso sejam afetados pelo coronavírus, precisam ter um acompanhamento médico para retomar os treinos. O pneumologista afirma que cada caso é muito particular, mas dependendo do dano na estrutura dos pulmões, é possível que o esportista recupere sua capacidade pulmonar com o auxílio de fisioterapia respiratória.
O médico do esporte também aconselha o acompanhamento de especialistas para entender o quanto da saúde do atleta foi afetada.
- Mesmo após o período médio de cura, o organismo ainda vai levar um tempo para se restabelecer totalmente. Então é interessante fazer um acompanhamento médico, principalmente se a pessoa apresentou um quadro de pneumonia. Ela deve realizar tomografias de tórax e exames de sangue. Mas se for um caso leve, não há a necessidade de exames tão específicos. Os casos são muito particulares - explica Pacheco.
Recentemente a Sociedade Brasileira de Cardiologia informou por meio de nota que a infecção pelo Covid-19 afeta o sistema cardiovascular em um número significativo de casos, sendo que as principais manifestações são:
- Infelizmente, não existe nenhuma proteção específica para evitar os problemas cardíacos decorrentes do Covid-19 e de nenhuma outra virose. A rapidez da cura ajuda muito a diminuir o risco das complicações, mas o processo é muito individual e requer repouso - orienta o cardiologista. entes da faixa de risco. Doutor em cardiologia pela pela FMUSP e colunista do Eu Atleta, Nabil Ghorayeb recomenda que o esportista acometido pelo coronavírus tenha muito cuidado durante o tratamento da virose.
- Infelizmente, não existe nenhuma proteção específica para evitar os problemas cardíacos decorrentes do Covid-19 e de nenhuma outra virose. A rapidez da cura ajuda muito a diminuir o risco das complicações, mas o processo é muito individual e requer repouso - orienta o cardiologista.
Nabil explica que a miocardite, inflamação do músculo do coração denominado miocárdio, geralmente é causada por infecção viral e não é exclusividade do Covid-19. Esta inflamação, que pode afetar 7% dos pacientes, deixa o coração enfraquecido e pode causar insuficiência cardíaca em casos mais graves. Um dos fatores de risco para a miocardite é justamente o retorno ao esporte após uma virose, sem que tenha havido a recuperação completa. Por isso, Nabil recomenda que se faça repouso durante a doença e que só se volte a praticar atividade física após a total liberação pelo médico.
- A miocardite pode ter uma evolução de seis ou mais meses. Geralmente a doença apresenta três caminhos: a cura sem nenhuma sequela, o que permite o retorno ao esporte; a cura com sequelas, em que o paciente pode apresentar arritmias benignas ou malignas, e neste caso são necessários tratamentos variados com medicações ou até mesmo com intervenções invasivas; e o terceiro caso que é a evolução com grande dilatação do coração. Nesta situação podem ocorrer insuficiência cardíaca de variados graus e o paciente pode precisar de até transplante cardíaco - explica Nabil.
O cardiologista recomenda que o atleta busque acompanhamento médico para a realização de exames e tratamentos específicos após a cura da Covid-19.
- A primeira medida em qualquer virose é o repouso domiciliar. Após a cura, o cardiologista saberá progredir com os exames. Por exemplo, se houver pericardite, que é a inflamação da capa que envolve o coração, junto com a miocardite, existem medicamentos que apresentam bons resultados durante o tratamento. O mais importante é valorizar a infecção e buscar um médico para fazer um acompanhamento, pois cada imunidade é individual e tem uma evolução diferente - recomenda o cardiologista.