Artrose: o que é, como tratar e prevenir
11/02/2022

 O ortopedista e médico do esporte Adriano Leonardi tira 10 dúvidas sobre a doença que atinge, atualmente, 15 milhões de pessoas no país, segundo o Ministério da Saúde

 Conhecida mundialmente como osteoartrite e, no Brasil como artrose, a doença de caráter inflamatório e degenerativo é marcada pelo desgaste da cartilagem, tecido que reveste a extremidade dos ossos, inchaço e deformidades. É responsável pela terceira maior causa de afastamento de trabalho no país, perdendo apenas das dores nas costas e da depressão. Segundo o Ministério da Saúde, a enfermidade atinge, atualmente, 15 milhões de pessoas no país. No mundo, é a quarta que mais reduz a qualidade de vida, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

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 Apesar de ser considerada uma doença da terceira idade, o crescente número de casos entre atletas e praticantes de esporte têm sido preocupante, despertando a atenção da ciência e levando a inúmeras pesquisas na área.

 

1. Quem pode desenvolver artrose?

 

 Todos nós podemos ter artrose em algum momento das nossas vidas. Estudos indicam que a obesidade, sedentarismo e fraqueza muscular aumentam as chances de uma pessoa desenvolver a lesão.

 

2. Quem já operou o joelho tem mais chances de ter a doença?

 

 Seja a cirurgia referente à ligamento cruzado anterior, meniscos, cartilagem, a resposta é sim. Estatisticamente, quem já foi submetido a operações, como a reconstrução do ligamento cruzado anterior, posterior e, principalmente, após a retirada parcial ou total dos meniscos, nossos principais “amortecedores”, tem maior chance de desenvolver a artrose, mesmo que esta ocorra em apenas um ponto do joelho.

 

3. As mulheres têm mais chance de desenvolver?

 

 Verdade. Devido a fatores anatômicos: com a pelve mais larga, o fêmur faz um ângulo maior que no homem na vertical (em média, 17º na mulher e 14º no homem). Isso faz com que haja uma distribuição anormal de peso, com maior tendência de sobrecarga na região externa do joelho, principalmente na porção externa da patela. Alguns estudos mostram que mulheres atletas têm aproximadamente o dobro de propensão em comparação com os homens. Em relação às mulheres negras, essas têm o dobro de propensão à artrose no joelho em comparação com mulheres brancas

4. Quais são os principais sintomas?

 

 A dor de caráter progressivo geralmente é o primeiro sintoma. Geralmente, acentua-se com a atividade física (degraus, subida e descida de escadas, esportes de contato e movimentos repetitivos) e é diretamente proporcional ao excesso de peso.

 O joelho inchado (derrame articular) é o segundo sintoma. É muito frequente em pessoas que têm a doença e praticam esportes. Outro sinal marcante é a perda progressiva do movimento e rigidez articular. Os efeitos da artrose no esporte vão desde queixas moderadas com inchaço e dores leves após o esporte à incapacitação plena das atividades diárias.

 

5. Devo parar de praticar esportes para proteger os joelhos?

 

 Não. Com o passar dos anos, por motivos profissionais e familiares, muitas pessoas tornam-se menos ativas. Infelizmente, o sedentarismo leva a atrofia muscular, com perda da capacidade de absorção de energia cinética e redução da resposta neutro-motora dos movimentos, com consequente sobrecarga articular e degeneração.

 

6. Praticar esportes com regularidade acelera o desenvolvimento da artrose?

 

 Esta é uma das questões mais intrigantes para a ciência, e a resposta é depende!

 Sabe-se hoje que os exercícios aeróbicos, como corrida, ciclismo e natação, melhoram a saúde do coração e permitem que os músculos trabalhem de forma mais eficiente, protegendo os joelhos. A Sociedade Americana de Reumatologia recomenda 30 min por dia durante cinco dias por semana, ou seja, 2,5 horas semanais. Espera-se melhora de sintomas após aproximadamente seis a oito semanas de exercícios regulares.

 No entanto, pessoas que praticam esporte sem a preparação e orientação, com volume e intensidade acima da capacidade fisiológica individual, têm enorme risco de acelerar a degradação cartilaginosa, com consequente artrose precoce.

 

7. Corredores de rua tem mais chance de desenvolver a doença?

 Recentemente, um estudo envolvendo 11 universidades francesas realizados com corredores mostraram que, quanto maior o volume do treino, maior a concentração sanguínea de produtos da degradação cartilaginosa, também chamados biomarcadores da cartilagem. Isso, segundo os autores, indicaria uma maior propensão a degradação cartilaginosa e talvez uma maior chance do desenvolvimento da doença entre corredores.

 Um outro estudo realizado na Baylor College of Medicine do Texas constatou, entretanto, menor incidência de artrite nos corredores, independentemente da idade, sexo e tempo no esporte. Tudo isso leva a crer que uma boa preparação física, volumes de treino adequados e respeito ao “recovery” induziriam a uma resposta biológica de proteção articular.

 

8. A musculação protege os joelhos?

 

 Assim como qualquer atividade física, a resposta também é: depende! O que tenho visto cada vez mais em meu consultório é que muitas pessoas que ingressam em academias, principalmente aquelas que começam a treinar sem orientação de um profissional de educação física acabam desenvolvendo lesões por sobrecarga no joelho, muitas vezes graves.

 Exercícios praticados fora da chamada angulação de proteção, com aumento da carga acima dos limites fisiológicos, podem sobrecarregar a cartilagem e acelerar seu processo degenerativo. A musculação, no entanto, sendo bem prescrita e praticada respeitando a resposta anabólica individual, tem sido uma das melhores ferramentas para a proteção articular.

 

9. Como se prevenir da artrose?

 

 Pessoalmente, considero o check up esportivo a melhor forma de se avaliar e prevenir o desenvolvimento da artrose. Testes funcionais e de equilíbrio muscular, como o discinético, são, ao meu ver, de suma importância.   Além disso, fatores como a anatomia individual, sobrepeso, historia familiar de artrose, esporte praticado precisam ser analisados e bem orientados.

 Por fim, a criação de um canal de comunicação entre equipe de saúde e o profissional de educação física deve ser estabelecido para a prescrição do treino, respeitando a capacidade fisiológica individual.

 

10. Quem tem artrose no joelho deve parar de praticar esportes?

 

 Felizmente, graças aos recentes avanços em medicina esportiva, a resposta tem sido cada vez mais não! Procedimentos como a infiltração do joelho com ácido hialurônico parecem ter efeito benéfico sobre a cartilagem.   Pesquisas publicadas nos últimos cinco anos em revistas científicas médicas mostraram efeitos como a redução da ativação de células inflamatórias responsáveis pelo desencadeamento da cascata inflamatória que causa destruição articular da artrose, estímulo da produção do próprio acido hialurônico (endógeno), com melhoria da viscosidade do liquido sinovial e ação direta e receptores de dor articular causando analgesia prolongada.

 Sua indicação varia de paciente a paciente, e a composição do produto, pelo grau da artrose. É importante ter em mente que ela nunca deve ser instituída como terapia única, mas sim sempre associada um boa reabilitação, seguida de fortalecimento e reequilíbrio muscular. Pessoalmente, considero o procedimento como adjuvante à reabilitação tradicional e NUNCA como monoterapia.

 Para os casos mais avançados da doença, técnicas cirúrgicas, como a osteotomia, artroscopia e, recentemente lançada no meio médico, a subcondroplastia, tem tido excelentes resultados e, quando aliadas a uma boa reabilitação, auxiliam em um retorno seguro ao esporte.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.

 

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