Devido à rotina agitada, muitas pessoas preferem optar pela conveniência de refeições mais fáceis e rápidas de preparar, como comida congelada, nuggets e refrigerantes. Esse tipo de alimentação é geralmente baseada em alimentos ultraprocessados, que além de convenientes, tendem a ser mais baratos. No entanto, esses produtos fornecem mais de 500 calorias extras por dia, o que leva ao ganho de peso, apontou estudo inédito publicado na revista Cell Metabolism.
A equipe revelou também que indivíduos cuja dieta é baseada em alimentos dessa categoria podem ganhar até 2 quilos por mês. Um dos possíveis motivos para esse resultado reside no fato de que alimentos processados são macios e fáceis de mastigar, fazendo com que as pessoas comam mais rápido. Essa rapidez provoca um atraso na atuação do intestino – que tem como missão “informar” ao cérebro que a quantidade de alimento ingerida foi suficiente. Portanto, esse processo ocorre mais tarde do que deveria e contribui para o consumo de calorias extras.
O achado surpreendeu a equipe. Inicialmente, os pesquisadores esperavam que o motivo do ganho de peso estivesse associado à presença de uma grande quantidade de ingredientes como alto teor de sódio, açúcar e gordura, que deixam a comida mais gostosa e, portanto, promovem maior ingestão alimentar. “Fiquei surpreso com os resultados. É o primeiro teste que pode realmente demonstrar a existência de uma relação causal entre os alimentos ultraprocessados ??- independentemente desses nutrientes – que levam as pessoas a comer demais e ganhar peso”, comentou Kevin Hall, principal autor do estudo, à revista Time.
Os resultados são preocupantes, já que pesquisas anteriores haviam associado a ingestão de alimentos ultraprocessados a maior risco de obesidade, câncer,doenças autoimunes e até mesmo morte prematura. Por causa disso, especialistas recomendam a redução desses alimentos na dieta.
“Estamos vivendo em um mundo rápido e as pessoas estão procurando soluções convenientes. Se realmente precisar comprá-los, olhe a lista de ingredientes e só compre produtos com o menor número de ingredientes e com aqueles que você conhece”, disse recentemente Nurgul Fitzgerald, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, à CNN.
Ao longo de um mês, os cientistas mantiveram vinte pessoas em um centro de pesquisa para controlar todas as refeições que eles faziam. As observações foram realizadas em duas partes: na primeira, que durou catorze dias, alguns participantes foram submetidos a refeições compostas somente de alimentos ultraprocessados, enquanto a outra parcela tinha uma alimentação minimamente processada.
Ambas as modalidades de refeição tinham as mesmas quantidades de calorias, açúcares, fibras, gorduras e carboidratos. Por exemplo, o café da manhã menos processado poderia conter aveia com bananas, nozes e leite desnatado, enquanto a ultraprocessada consistia em um pão americano (bagel) com cream cheese e bacon de peru.
Na segunda parte do estudo, que também durou catorze dias, houve uma troca: aqueles que só comeram ultraprocessados passaram a ingerir apenas os minimamente processados e vice-versa. Nas duas fases, todos os participantes foram orientados a comer à vontade (muito ou pouco, qualquer que fosse a preferência). Eles também foram submetidos às mesmas quantidades de exercício físico diariamente.
A análise das observações mostrou que os participantes na dieta ultraprocessada consumiram 508 calorias a mais por dia em comparação com aqueles que estavam sob a dieta menos processada. Os pesquisadores ainda notaram que ao final dos catorze dias (na primeira e na segunda fase do estudo), eles haviam ganhado cerca de 900 gramas.
Já aqueles submetidos à dieta rica em alimentos menos processados perderam cerca de 900 gramas. De acordo com a pesquisa, o gênero dos participantes, a ordem em que foram submetidos às dietas e o índice de massa corporal (IMC) não influenciaram na quantidade diária de calorias ingeridas.
Apesar de os participantes se sentirem satisfeitos e bem alimentados com ambas as dietas, a equipe notou que o comportamento de hormônios envolvidos no processo de saciedade mudou de acordo com a dieta realizada. Enquanto na dieta ultraprocessada o intestino não atuava da maneira convencional, na dieta menos processada notou-se um aumento do hormônio PYY – cuja função é suprimir o apetite – ao mesmo tempo em que houve uma diminuição da grelina(hormônio da fome).
“As pessoas reduzem naturalmente a ingestão de calorias, o que gera perda de peso e gordura corporal, sem que precisem controlar as calorias”, explicou Hall. Essa observação poderia explicar o aumento no ganho e perda de peso dos participantes. Ainda assim, os pesquisadores não saber dizer por que as mudanças hormonais ocorrem.
Outra possível explicação para o ganho de peso está na baixa quantidade de proteínas ingeridas. Os cientistas notaram que, embora houvesse semelhança nutricional entre os dois tipos de dieta, a menos processada tinha um pouco mais de proteína. Portanto, para os indivíduos na dieta ultraprocessada, a maior ingestão calórica poderia estar associada à necessidade do organismo de adquirir uma determinada quantidade de proteína.
Ainda que os resultados sejam importantes, a equipe salienta que o estudo teve limitações, especialmente no que diz respeito aos motivos que levam às pessoas a escolherem comida processada, como custo, conveniência e habilidades culinárias. Para as classes econômicas menos favorecidas, por exemplo, uma refeição composta de alimentos mais naturais ou menos processados é mais cara, em comparação com uma maior quantidade de ultraprocessados.
Além disso, indivíduos pertencentes a essas classes dispõem de menos tempo para cozinhar devido ao longo deslocamento até o local de trabalho e vice-versa. Isso é mais um ponto a favor dos ultraprocessados: seu preparo é rápido e eles acabam sendo mais convenientes nesses casos.
Especialistas e entidades de saúde governamentais recomendam a redução do consumo de alimentos ultraprocessados, considerando questões de saúde. Para os pesquisadores, outros fatores devem ser levados em conta na hora de desenvolver diretrizes alimentares. “As políticas que desencorajam o consumo de alimentos ultraprocessados ??devem ser sensíveis ao tempo, habilidade, despesa e esforço necessários para preparar refeições de alimentos minimamente processados ??- recursos que muitas vezes são escassos para aqueles que não são membros das classes socioeconômicas mais altas”, ressaltou ao Medical News Today.
O termo “ultraprocessado” refere-se a uma categoria específica de produtos alimentares que foram formulados para ter um bom sabor e uma textura que agrade às pessoas, de forma que elas os queiram e gostem de comê-los. Eles geralmente têm alto teor de sódio, açúcar e calorias e poucos dos nutrientes de que necessitamos.
A proposta de alteração do rótulo dos alimentos processados e ultraprocessados, em discussão na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) busca resolver esse problema ao tornar mais fácil para o consumidor a presença de componentes prejudiciais à saúde nesse alimentos, como sódio, açúcar e gorduras.